terça-feira, 14 de março de 2017


Neutralidade no Magistério?

Discute-se hoje sobre a conveniência ou não da escola sem partido. Educar segundo uma das definições etimológicas significa exatamente, conduzir para fora numa direção. É impossível o educador neutro, mesmo porque, se assim fosse, deixaria de ser educador. Por profissão, é alguém que não pode aceitar o erro, a injustiça, o desrespeito, a violência. Assim sendo, é impossível não avaliar os fatos históricos embora deva situá-los no contexto em que ocorreram. É inadmissível falar da escravidão ou do nazismo sem condená-los. Embora a neutralidade seja impossível e mesmo indesejável, a consciência e a justificativa do seu posicionamento são possíveis. Todo professor, como todo ser humano, em certa medida, faz uma interpretação ideológica da realidade a partir do seu ponto de vista. Só a definição clara do seu ângulo de visão vai minimizar o problema e a respeitar os que dele divergem.

Diante dessa situação real, surge a dificuldade para conciliar os momentos da análise e da síntese no estudo da História. É muito difícil, para alunos dos níveis fundamental e médio, o acesso às fontes primárias para que os fatos possam ser analisados de um modo razoavelmente isento. Os manuais apresentam sínteses e interpretações feitas pelos historiadores por vezes justificáveis por outras nem tanto. De qualquer modo, apresentam sempre uma interpretação decorrente de uma determinada visão de mundo que, se não leva ao relativismo, conduz à relatividade do conhecimento.

A consciência dessa relatividade vai permitir um olhar mais crítico e uma maior admissão de outras interpretações. Por outro lado, uma avaliação quando é tomada como única possível ou aceita sem justificativas vai negar o caráter de ciência da História para relegá-la a uma narração ideológica dos fatos.

Esse é um problema sem solução: o professor não deixa de ser humano por ser professor é, ao mesmo tempo, como profissional, é sua obrigação proporcionar ao aluno a maior possibilidade de análise do fato histórico não lhe apresentando somente sínteses prontas e indiscutíveis como a única possibilidade de conhecimento.

É preciso ainda, considerar a dificuldade de aprender por sínteses feitas por outros. O aluno será levado a aceitar passivamente e a decorar as respostas consideradas como “certas”. Ele é privado da capacidade de análise e de crítica devendo apenas repetir o conteúdo do livro didático e a palavra do professor.

Só se apresenta uma saída para esse impasse: a consciência do problema para que possa ser de certo modo superado.


Vera Rudge Werneck

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