quarta-feira, 10 de maio de 2017


Por que? X Porque

Dentre as inúmeras perguntas que se fazem, uma impressiona especialmente: por que a crença religiosa incomoda tanto aos que dela não participam? Por que alguns são capazes de roubar e destruir despachos colocados numa esquina, são capazes de apedrejar um praticante de determinado culto, de destruir imagens e objetos sagrados para uma religião, de quebrar violentamente crucifixos, de ridicularizar de maneira ofensiva em jornais, rádio, televisão e internet o que é sagrado para muitos? Por que tanta agressividade, por que? Por que?

Não que se defenda a censura, a proibição. Deve ser garantida a livre expressão, o direito de liberdade na manifestação. A pergunta parte de uma curiosidade científica no âmbito da sociologia da educação. Por que esse tipo de ação? O que motiva alguém a agir desse modo? Que força os mobiliza para essa agressividade gratuita?

Os desentendimentos e mesmo as reações apaixonadas em questões de política são, de certo modo, compreensíveis já que determinados posicionamentos podem redundar em dificuldades para os outros. As discordâncias em orientações de economia justificam-se pelo prejuízo que podem acarretar. Mesmo no que diz respeito aos usos, aos costumes, às ideologias como interpretações do real, entendem-se os conflitos, os desentendimentos pelas conseqüências que trazem para os diferentes estilos de vida.

Contrariamente às questões políticas, econômicas, ideológicas e de costumes sociais que repercutem na vida do outro, as opções religiosas em nada interferem no viver de cada um. Considerando-se que a religião, atualmente, não é mais um comportamento da sociedade e a laicidade do Estado, especialmente em países do ocidente na contemporaneidade, que diferença pode fazer a opção religiosa de cada um? Entendendo-se a religião como fundamentada na fé, na livre adesão a uma revelação sobre o sobrenatural, quem pode considerar-se como detentor da verdade absoluta? Que certeza pode-se ter sobre a existência de Deus ou sobre a vida após a morte? Este é um terreno onde reina a total indeterminação portanto, onde todas as opções, desde que não ponham em risco a vida e a liberdade do próximo e o ecossistema, devem ser aceitas.

Num exercício de reflexão, chega-se a algumas respostas para a pergunta inicial: por que tanta agressividade contra as crenças religiosas alheias? Porque seria uma forma de vingança contra erros cometidos no passado. (Estariam, neste caso, agindo da mesma forma do que os que condenaram). Porque, na falta de criatividade confundem graça com agressividade e não percebem que a ofensa não é engraçada; porque é uma maneira fácil de projetar-se profissionalmente; porque buscam o sucesso pelo escândalo; porque julgam-se superiores por não terem fé, por não caírem em nenhuma “fraqueza” religiosa. São muitos os “porquês” muitas as razões possíveis, mas talvez a que melhor explique tais atitudes seja a seguinte: porque nunca pararam para pensar sobre essa questão.


Vera Rudge Werneck